O MEU FABULOSO IRMÃO II Por CT1DT

  

Cerca de 1950, tinha meu irmão deixado as minas dos diamantes em Angola, para tentar vida em Luanda.
Tendo conseguido emprego na refinaria Petrofina, ali muito perto do QTH de trabalho do nosso colega Sabino, hoje CT4HZ, que dirigia uma importantíssima firma de construção de estradas e pontes em Angola e não só, pensou que seria o sítio ideal para uns quilómetros mais à frente, erigir o sonho da sua vida, o seu Observatório da Mulemba, hoje totalmente desfeito pelos indígenas locais.
Em certa altura da sua estadia na Petrofina, começou a ouvir falar de que havia um problema ainda insolúvel e há já bastante tempo, porque um dos muitos e enormes depósitos de fuel (nafta) , não se conseguia despejar, provavelmente porque borras condensadas no seu fundo, não deixavam correr nada pela torneira.
Quando a engenharia já tinha gasto todos os seus conhecimentos e previsões, meu irmão que estava há anos, muito habituado a nadar em profundidade e sem apoio a tanque de ar, pensou que, mergulhando à sua máxima capacidade vital, conseguiria chegar ao fundo daquele depósito, para estudar o que estaria a vedar a saída.
Ninguém acreditava que fosse uma tarefa humanamente possivel, mas como meu irmão Carlos Mar sempre gostou do que era difícil, lá se propôs mergulhar naquele negro e viscoso produto e, completamente às escuras, e perante o espanto de toda a engenharia, lá subiu os degraus que davam acesso à boca superior do depósito e…vai disto …mergulhou !
Nunca ninguém tinha visto um ser humano ser capaz de aguentar 3 minutos sem respirar e ficou tudo alerta e preocupado, para o que desse e viesse.
Os operários encarregados de abrir a enorme torneira (válvula) de descarga, ficaram alerta e, de combinação prévia com meu irmão, iriam batendo com um martelo, no exterior do enorme depósito, para que ele se apercebesse, dentro da escuridão absoluta, onde estava a nadar e pudesse encontrar a saída do depósito.
A temperatura da nafta rondava os 40ºC, o que vinha ainda mais, dificultar o trabalho!
Entretanto meu “fabuloso” irmão já se tinha protegido com tampões de algodão por todos os orifícios do seu corpo, não fosse o Diabo tecê-las…
Ao fim daqueles penosos 3 minutos de espera sem que nada acontecesse, e já se pensava que ele não poderia voltar à superfície, ele lá apareceu a escorrer aquela mistela horrível e negra e a tentar limpar a cara, o cabelo e os olhos que tinha mantido completamente cerrados, embora com óculos de mergulhador.
Meu irmão pediu uma pá e com ela, voltou a mergulhar a escuridão, enquanto o operário cá fora, continuava a fazer tam-tam-tam junto à válvula de descarga.
E, para surpresa geral, passados mais 3 minutos, a nafta começou a correr perfeitamente, enquanto meu irmão voltava à superfície para se limpar daquela bodega toda , perante as palmas e gritaria de entusiasmo de toda aquela gente !
Para a maioria das pessoas existentes, foi uma festa, mas mais uma vez, para a engenharia que muito calada, assistia ao evento, era mais uma tentativa do Bettencourt Faria, para provar que nem sempre são os Cursos Superiores, que resolvem todas as situações…
Desconheço no entanto, se ele foi galardoado pela atenta Administração da Petrofina daqueles tempos.


Mário Portugal Leça Faria,  CT1DT

ct1dt@sapo.pt

 


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 Página "O meu fabuloso irmão II" actualizada em: 23-07-2008
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